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Quinta-feira, 15 de agosto de 2019

O contingenciamento afeta serviços de terceirizados, água, luz e bolsas acadêmicas.

Por Mickael Barbieir -CBN

 

Os alunos das universidades federais mineiras retornaram às aulas neste segundo semestre com temor por causa dos impactos dos cortes anunciados pelo governo federal. O anúncio foi ainda no começo do ano, mas já era previsto que os efeitos seriam sentidos de forma mais acentuada apenas no final de 2019. 

Somente na Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG, o recurso caiu de R$ 105 para R$ 62 milhões após o contingenciamento feito pelo Ministério da Educação. O montante era investido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq. Houve queda no número de bolsas para residentes de pós-doutorado, muitos deles que trabalhavam diretamente com pesquisas sobre doença de chagas, leishmaniose, zika e chikungunya. 

Outra pesquisa importante afetada é a do Instituto de Ciências Biológicas que identificou uma molécula que ajuda no diagnóstico precoce do câncer de fígado. Esse estudo depende do trabalho de sete bolsistas, que vão desde alunos do ensino médio até do pós-doutorado. As bolsas têm valores que variam de R$ 400 a R$ 4.100, dependendo do nível do pesquisador. A partir de setembro, no entanto, não será possível continuar pagando essas bolsas.

A coordenadora da pesquisa, professora e pesquisadora Maria de Fátima Leite, lamenta o prejuízo a um trabalho que vem sendo realizado nos últimos cinco anos. 'Apesar de já estarmos buscando parcerias de outros países para dar continuidade à pesquisa, só isso não é suficiente, porque quem realiza os experimentos são os alunos e, se eles ficarem sem as bolsas, isso significa a inviabilidade para dar prosseguimento à pesquisa', lamenta. 'Eles trabalham mais do que 40 horas [por semana] e não têm férias, décimo terceiro, não têm seguro e nem outro recurso que normalmente uma pessoa com carteira assinada teria, e ainda são de dedicação exclusiva.' 

A professora Maria de Fátima Leite comenta que os cortes vão impedir os pesquisadores de darem o próximo passo no projeto: pensar um tratamento para o câncer de fígado além do diagnóstico precoce. 'Essa parte precisa de mais investimentos e estudos para chegarmos a viabilizar isso para a sociedade', afirma. 'A universidade trabalha com a maximização dos recursos, então não desperdiça e não existe luxo, existe na verdade um trabalho muito sério e muita dedicação dos profissionais envolvidos. Porque, no Brasil, mais de 90% das pesquisas científicas são feitas pelas universidades públicas. Prejudicar o andamento das pesquisas nas universidades é um prejuízo imediato para a sociedade.'

A situação da UFMG não é diferente da de outras instituições mineiras. Por exemplo, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a UFJF teve corte de 27% no valor do custeio se comparado ao ano passado. O repasse caiu de R$ 91 para R$ 66 milhões. 

Na Universidade Federal de Ouro Preto, o problema atinge os contratos dos terceirizados que prestam serviços básicos, como limpeza e segurança. Eles correm o risco de ser demitidos em breve, já que a verba para esses contratos teve corte de 20%. 

Em Viçosa, a Universidade Federal está com orçamento que caiu em 11%: de R$ 117 milhões para R$ 104 milhões. As obras de vários laboratórios, de dois restaurantes universitários e de uma Unidade de Atendimento em Saúde podem ser paralisadas. 

Em Itajubá, no Sul de Minas, a Unifei está com quase R$ 11 milhões bloqueados. O contingenciamento não atingiu as bolsas acadêmicas por causa de uma diretriz interna, mas afetou setores como capacitação de servidores, pagamento de energia e água, fomento de pesquisa e extensão.
 

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